13 março 2007

Eutanásia


A «cultura da morte» que se faz sentir na sociedade actual:
Têm-se verificado na nossa sociedade todo um conjunto de fenómenos e factos, que são considerados como sintomas preocupantes de uma alteração cultural, ao mesmo tempo que anunciam uma crise de civilização, não apenas no campo económico, social e político, mas também nos campos moral e ético. Alerta-nos para isso mesmo o Papa João Paulo II na carta encíclica Evangelium Vitae quando se refere à «cultura da morte» que se faz sentir no meio da sociedade hodierna.
Encontramo-nos hoje no meio de uma luta dramática entre a «cultura da morte» e a «cultura da vida». Todos estamos implicados e tomamos parte neste conflito, sendo necessário, digo mesmo exigindo-se, uma decisão fundamental em favor da vida, (cf. E.V. nº 28). Esta «cultura da morte» não se vê apenas no fim da existência humana, mas passa também pela perda de valores e critérios, morais e éticos, que deveriam fundamentar e incentivar o ser humano a buscar um sentido mais pleno para a sua existência.
Se calhar, por sabermos que somos seres finitos e limitados é que tomamos algumas atitudes efémeras que contribuem e alimentam esta mesma cultura; refiro-me à busca desenfreada do prazer hedonista, a procura de uma sexualidade virada apenas para o seu âmbito genital, o consumismo, em que o ter toma o lugar do ser e nós voltamo-nos única e exclusivamente para o nosso umbigo, provocando uma cultura anti-solidária, (cf. E.V. nº 12). E, por vezes, quando se pensa que estamos a ser altruístas e solidários com alguma pessoa, seja ela um nascituro ou um doente terminal, ao suprimir-lhes a vida, não estamos se não mata-los. Se porventura, alguém incomoda o nosso bem-estar com a sua enfermidade, deficiência ou apenas pela sua presença, é logo tida como um inimigo a eliminar, (cf. E.V. nº 12).
Há na nossa sociedade grupos e seitas que encontram a sua essência em práticas opostas à lei da vida. Quero com isto dizer que todos sabemos da existência de seitas satânicas e não só, que matam pessoas para fazerem determinados rituais.
Vivemos numa sociedade de barulhos em que as pessoas andam sempre a olhar para os relógios, a ver distâncias, a marcar coisas nas agendas e deixam-se alienar por este corridinho. Vivemos no imediato das situações e não reflectimos nos problemas que nos assolam; perdemos o sentido de Deus e do próprio homem.
Todo este drama é provocado no homem contemporâneo “pelo eclipse do sentido de Deus e do homem” (E.V. nº 21). Isto passa-se não apenas na consciência individual de cada homem, mas também na consciência moral da sociedade porque ela é responsável e porque permite comportamentos contrários à vida, alimentando a «cultura da morte» com as ditas estruturas de pecado estabelecendo uma confusão entre o que é o bem e o que é o mal, (cf. E.V. nº 24).
No entanto e apesar de tudo o que se disse acima há uma evidência que é impossível de negar ao ser humano; é a de que todo o homem é mortal, finito, limitado e “toda a luz que se possa fazer sobre o enigma da morte é insuficiente para pensar e organizar um mundo com sentido” . Perdeu-se hoje o sentido do sofrimento e do ser-se velho, daí que não admira que haja pessoas que queiram legalizar a eutanásia para pôr fim a essas situações.
A morte de uma pessoa deixou de ser algo social e de acontecer no meio da família; ela é vista agora como um acontecimento momentâneo; ou seja, “a solidariedade ocasionada noutros tempos por ocasião da morte, tem hoje a brevidade de um cumprimento formal” . É a «cultura da morte» em que vivemos.

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