Ao longo deste ano lectivo, o Seminário Maior de Lamego, em cooperação com a Associação de Estudantes de Teologia do mesmo Seminário, tem vindo a promover diversas conferências de formação para todo o público que queira aderir.
No passado dia 28 de Fevereiro, assistiu-se a uma conferência proferida pelo Doutor João Duque sobre “Teologia do século XX”. Sendo um tema bastante amplo, o conferencista decidiu explanar-se pela teologia antropológico-política. O século XX foi, sem dúvida, um dos séculos mais ricos em variedade de produção teológica e, por isso, o Doutor João Duque convidou a assistência a fazer uma viagem no tempo da teologia do século XX.
Assim sendo, um dos pontos a destacar é que a dimensão antropológica da teologia levou ao surgimento da teologia política. Estudar teologia política é entender que esta parte sempre da Sagrada Escritura e da Tradição da Igreja.
O ponto de discussão na dimensão antropológica é a relação entre natural e sobrenatural, isto é, o problema ser humano – Deus. Neste sentido, o teólogo Lubac reflectiu sobre este ponto, onde colocava as duas interrogações: Em que medida se pode prescindir de Deus? A relação com Deus é fundamental para pensar o ser humano?
Lubac chegou a uma conclusão que, mais tarde, Karl Rahner virá a estudar: um ser humano teológico quando pensa no homem já pensa no divino, no sobrenatural. O natural e o sobrenatural pensam-se concomitantemente. A este termino também Maurice Blondel chegaria quando dizia que toda a tentativa de responder ao que é o ser humano levar-nos-ia a uma conclusão teológica.
É necessário destacar que Rahner é o expoente da antropologia e, deste modo, todas as teologias partem do seu pensamento. Metz, discípulo de Rahner, é um exemplo da afirmação anterior. A reflexão deste teólogo parte do principio de que o caminho da subjectividade e da especulação não será o mais acertado para a teologia antropológica e política. Metz preferiu partir da socialização, dizendo que a fé cristã parte da sociedade; a teologia de Metz é, fundamentalmente, uma reflexão sobre a secularização.
Nesta linha, a teologia política é, cada vez mais, pertinente no seio de uma sociedade laica e secularizada. Separar a fé e a política é um enorme erro pois estariam a isolar campos que, não sendo incompatíveis, afectariam todos os crentes. É certo que algumas teologias políticas como a teologia da libertação de Leonardo Boff, no horizonte latino-americano, foram um caminho fracassado, uma utopia. Mas é preciso não esquecer que a teologia política é sempre auxiliada pela reserva escatológica, ou seja, as intervenções proféticas que apontam para a eternidade.
Assim, conclui-se que a antropologia e a política estão de mãos dadas, como a teologia e a política são completamente compatíveis, ao contrário do que ultimamente se pensa. Foi neste sentido que o conferencista finalizou a viagem teológica debaixo de aplausos do auditório presente.
Terras de La Sallete com a participação do Daniel Ferreira
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